segunda-feira, 25 de setembro de 2023

Entreferida

Vinha a fresta.

Lucidez depois de tanto esforço de remendo.

A carne ainda ardia, vermelho sangue. 

Precisava caminhar, sentir o vento no rosto, soprar com afago as feridas da alma. Um somatório delas. 

Não era só o corte de um amor bonito que iniciava brotação, ansiava por florir. Doía saber com a alma que no fundo estava só. Saber de repente, muito . Era o afastar-se de todo o amor que deveria ser casa a condição para se manter viva.

Por tantos anos havia apenas sobrevivido. Indigna de estar no mundo. 

Ansiava por casa. Não era sobre ser rejeitada mais uma vez. Era sobre não ter morada, não ser morada.

Habitar o entrecaminho dos destinos nenhuns.

Aos oito anos, talvez sete, transitava por ruas tão bonitas. Noite fresca, luz quente. Árvores floridas nos quintais. Varandas espaçosas em prédios familiares. Silêncio quebrado apenas pela voz da mãe, que contava sobre alguma história da infância. Era esse momento toda a morada de que precisava.

Tinham que retornar ao lugar hostil onde habitavam. Ele estaria transtornado por não saber onde estiveram. Talvez iniciasse novamente os gritos. Ela seria de novo imprensada feito rato contra a parede para o abate. Puxaria uma faca. O sangue escorreria do braço dele. Nada a ser feito senão gritar e correr.