sábado, 8 de abril de 2023

 Ela estava perdida. Atravessava a cidade todos os dias. Sentia-se feliz com todo aquele fluxo de pessoas e paisagens familiares. Era um cenário seu, vivo, cheio de possibilidades. 

Ainda assim a angústia lhe doía. Era como se todos os caminhos a salvassem e em mesma medida a amaldiçoassem. Queria que a levassem a ele. Ainda que essa fosse sua perdição. 

Aquela figura incapturavel, em movimento, perigo de loucura. Queria senti-lo ali. Vê-lo, tocá-lo, ser dele. Queria partilhar corpo, sede, existência. Abrigá-lo em si. Ser fluxo de vida junto com ele.

Isso se deve nomear? Está no suprasenso de todo o entendimento. 

Amor.

Dor. Calor. Sabor. Torpor. Dissabor.

A fortuna, que sempre a abençoara, agora a observava de longe a trilhar trágico destino.

Ele não lia a poesia do mundo, nem dela.

Vivia em outro ponto da cidade, onde o mar salgava os espíritos de praticidade e vaidade.

Estava perdida.

Os caminhos ensinam sobre o abismo e regresso a si mesmo. Perder-se também é busca por achar-se.

A roda girava movendo caos, trens, ônibus, carros, paisagens suas. Encontros.




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