Ela estava perdida. Atravessava a cidade todos os dias. Sentia-se feliz com todo aquele fluxo de pessoas e paisagens familiares. Era um cenário seu, vivo, cheio de possibilidades.
Ainda assim a angústia lhe doía. Era como se todos os caminhos a salvassem e em mesma medida a amaldiçoassem. Queria que a levassem a ele. Ainda que essa fosse sua perdição.
Aquela figura incapturavel, em movimento, perigo de loucura. Queria senti-lo ali. Vê-lo, tocá-lo, ser dele. Queria partilhar corpo, sede, existência. Abrigá-lo em si. Ser fluxo de vida junto com ele.
Isso se deve nomear? Está no suprasenso de todo o entendimento.
Amor.
Dor. Calor. Sabor. Torpor. Dissabor.
A fortuna, que sempre a abençoara, agora a observava de longe a trilhar trágico destino.
Ele não lia a poesia do mundo, nem dela.
Vivia em outro ponto da cidade, onde o mar salgava os espíritos de praticidade e vaidade.
Estava perdida.
Os caminhos ensinam sobre o abismo e regresso a si mesmo. Perder-se também é busca por achar-se.
A roda girava movendo caos, trens, ônibus, carros, paisagens suas. Encontros.
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