sábado, 17 de outubro de 2020

Mundo móvel, nunca meu
Povoado de sorrisos alheios
Muros a preservarem 
Nenhum calor, atrofia
Vazio, apatia, asfixia
Lixo e luxo
Morre-se de carestia

Ando
caminho de nenhum chegar
Penso
vagueio por domínios de Dioniso
Danso
com música de antes dos tempos

Poesia dura
Lágrima de deserto
Vermelho sangue
Rua

Todos à grande rua dos homens livres!
Todos à bruta fera destruidora de certezas!
Viva o devir, as palavras, o porvir da poesia!
Viva o homem, a flor, a cor, o amor e a revolução!

sexta-feira, 28 de agosto de 2020

 O que importa de fato? O que carregamos conosco todos os dias? Sombras ou leveza? A dor sempre foi bloco sólido, pesado, de esculpir poesia. Infortúnio desesperado, alma tormentosa, vagueante.

É possível discernir vida, depois de muita chuva caudalosa, névoa, frio de ossos atrofiados.

Há alguma fé. O sofrimento é ainda força bruta, mas a fé persiste mais. Fé nas pessoas. Fé de que existir é possível.

Quero um dia apenas de leveza. Suficiente para o movimento, para que o caos aponte a travessia.

quinta-feira, 9 de abril de 2020

A noite já foi escuridão densa para criança premente.
Já foi angústia, tortura assídua.
Descobri-a em algum momento gentil senhora. A portadora do mistério, lugar da sobra transformadora do mundo, doadora de morte.
É proteção, espera, possibilidade infinita da vida.
É minha. Inseparável companheira. Adensadora de alma. Caminho. Travessia.

sábado, 28 de março de 2020

Nunca nos preparamos de fato para a morte. Ela disfarça-se de distância. Mas está diariamente ao nosso lado. É companheira bem-vinda, necessária. Por ela estamos vivos. É lembrança tatuada, brisa e tempestade que alimenta a alma e faz nos movermos.

terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Devíamos ser gratos aos vendavais da vida. São os que trazem trevas e gestação. Neles, cada dor é parto de reconquista. É crescer de alma, é o viver-pulsão infinito.

sábado, 4 de janeiro de 2020

Sobre o ritmo, a asa e o voo

A concretude é apenas detalhe. A pulsão intermitente é a vida. Ouvir faz comungar o mundo. Voar é ser o sabedor dos segredos do tudo e do nada de uma nota, da música do abismo, do ser e da morte.
Quero o ar. Sou alma ávida pelo vento.
Certo dia, talvez, a gente volte.
Com a alma mais leve
O vento traz às vezes de volta os sonhos de anos caídos como folhas na terra.