sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Saudade

Parte de mim não mais habita o inarredável mundo das formas viventes.
Parte de mim se foi, não cabe mais na logicidade do cintilante mundo.
Penetra o esconderijo do absurdo, recôndido do fim
É parte dissonante e melodia de completude. 
É mistério em se fazendo.
Dor de não abraço,
de não toque,
de não ver.
Amor
que 
(é)
não
acaba.
De sentir
Demais não,
Aprofundamento.
É busca pelo se fazer do mundo.
É estar embevecido pela brevidade do minuto.
Dança a consonância do absurdo, movimento fundante.
Parte de mim é, sintaxe de transbordamento, dor e flor, cura.
Parte de mim habita o onde, o até, que Orfeu pôde aplacar com a lira.
Parte de mim é mundo brotante, outra, vaga lembrança de forma vivente.


Gotas de alma em transbordamento semeiam ventos de saudade e poesia.

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

A aprendizagem

Vida em convulsão
Tateia-se o medo
Desvios, labirintos
Imagem desdita.

O algo que se perde.
Amontoado, embrenhamento
de alma que se entretém.

Algo vai se aprumando
tomando espaço
até um miligrama de morte
fazer morada
no canto mais escuro
no negrume mais denso
na tessitura incompreensível
no limiar entre o eu e o infinito do dentro.

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Brevidade

Ao fundo, no horizonte, o céu é laranja vibrante com toques de luz. Amarelo, e já violeta!
Nas montanhas do subúrbio as luzes enfeitam as casinhas. Besouros cintilantes.
A igreja da Penha reina soberana com toda luz artificial a se misturar ao brilho das nuvens do poente.
A imagem vibra, tremula em moldura cortada pelas linhas do viaduto. Os carros, frenéticos, a ela contrastam por ritmo e escuridão.
Logo o vermelho e o penumbroso já são toda a paisagem.
O ônibus chega, hora de embarcar rumo ao arrebol.

quarta-feira, 14 de março de 2018

Ser já é por demais arrebatador, revoltoso, ainda assim, é preciso provar que o é. O parecer vale mais. Convenções valem mais.
Ser não pode se cercear pelo parecer. O ser é vida brotante, indômita, rebelada, ser é potência.
Ser é pura poesia.

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Achar-me
O único caminho é o que traço nessa linha insólita.
Quantas máscaras consigo vestir até que nada reste em mim?
Nua, ao frio, a tremer de dor... até que a insanidade me ache e eu possa percorrer o delírio do mundo.
Tateando corpos em busca de minha imagem.
Feliz ... belo ... vazio ... sem fio ... perde-se a linha.
Acha-se o abismo.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

A consciência é inaudível nesse ponto de turbilhão.
Preciso de centramento, encontrar meu fluxo de brotação. O barulho estridente é responsável por a alma não conseguir proferir.
É inútil todo o esforço de produção... a vida, alada, fugidia, não toca o chão.

Poesia é coisa muito séria, é murmúrio do fluxo da vida. É o que nos permite tocar o indizível do mundo.
Não faço poesia, mas ela se faz em mim.