sábado, 27 de outubro de 2012

Muito cansada. Cansada das pessoas.
Chega de obrigações desnecessárias, de pessoas desnecessárias, de bondade desnecessária.
Cansada de não pertence a lugar algum, de sempre ter algo impedindo, magoando, de não ter liberdade para coisa alguma.
Estou petrificada, paralisada, com correntes muito pesadas. Talvez eu não aguente por muito tempo.
A alma é por demais frágil para suportar tanta falta de vida.


José

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, Você?

Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, proptesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,

a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia

e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,

seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio, - e agora?

Com a chave na mão 
quer abrir a porta,
não existe porta;

quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.

José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você consasse,
se você morresse....

Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja do galope,
você marcha, José!

José, para onde?

(Carlos Drummond de Andrade)

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Vontade de nada. Tudo anda tão solto, fora do lugar.
Falta o sentido, caem os gestos, as palavras.
O vento mudou, está derrubando todas as folhas, sujando todo o chão.
É tempo de varrer mesmo contra o vento.
Não se sabe quanto tempo levará para que o colorido tome posse das flores e o sol conduza a um lugar sem fim.
Casa vazia, moendo-se aos poucos.
Morre-se por dentro, lá fora as folhas sujam todo o quintal.